Alucinações Auditivas: O Que São, Causas e Quando Procurar Ajuda

Autor: Andriano Martins
As alucinações auditivas são um fenômeno psicológico que pode ser extremamente perturbador para quem as experimenta. Elas ocorrem quando uma pessoa ouve sons, vozes ou ruídos que não têm uma origem externa real, ou seja, são percebidos apenas pela pessoa que os ouve. Essas alucinações podem variar desde vozes neutras até mensagens ameaçadoras ou críticas, e podem afetar gravemente a qualidade de vida de quem as vive. Mas o que pode causar esse tipo de experiência? E quando é hora de procurar ajuda?
O que são as alucinações auditivas?
Alucinações auditivas são uma forma de percepção sensorial distorcida, onde a pessoa ouve sons ou vozes que não existem no ambiente. Diferentemente de uma simples “voz interior” que todos nós experimentamos ao pensar ou refletir, as alucinações auditivas envolvem percepções reais de sons que não são produzidos pelo mundo externo. As vozes podem ser de diferentes naturezas, algumas amigáveis ou neutras, outras cruéis ou ameaçadoras.
Causas Comuns de Alucinações Auditivas
A experiência de ouvir vozes ou outros sons pode ter diversas origens. Algumas das principais causas incluem:

- Esquizofrenia
A esquizofrenia é um dos transtornos mais associados às alucinações auditivas. Pessoas com esquizofrenia podem ouvir vozes que não existem, o que muitas vezes está relacionado à desorganização do pensamento. Essas vozes podem ser críticas, instrutivas, ou até mesmo ameaçadoras, e costumam ser muito reais para quem as ouve, podendo afetar gravemente a capacidade de funcionamento diário do indivíduo.
- Transtornos Psicóticos
Outros transtornos psicóticos, como o transtorno delirante, podem também estar associados a alucinações auditivas. Embora o principal sintoma desses transtornos seja o delírio (acreditar em algo irreal), algumas pessoas também podem experimentar alucinações auditivas, que se misturam com as crenças delirantes.


- Transtorno Bipolar
Em episódios extremos de mania ou depressão grave, pessoas com transtorno bipolar podem experimentar sintomas psicóticos, incluindo alucinações auditivas. Durante a fase maníaca, por exemplo, podem ouvir vozes que refletem um estado de grandiosidade ou paranoia. Já na fase depressiva, as vozes podem ser mais críticas e negativas, intensificando os sentimentos de desesperança.
- Depressão Psicótica
Em alguns casos de depressão grave, também pode ocorrer a chamada “depressão psicótica”, onde, além dos sintomas depressivos comuns (como tristeza extrema, falta de energia e sentimentos de inutilidade), o indivíduo pode começar a ouvir vozes que o criticam ou o ameaçam, exacerbando o sofrimento emocional.


- Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)
Indivíduos que sofreram traumas profundos, como abuso, acidentes ou conflitos bélicos, podem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Neste contexto, as alucinações auditivas podem ser uma forma de reviver o trauma, com vozes relacionadas à experiência dolorosa que a pessoa viveu.
- Uso de Substâncias
Algumas substâncias psicoativas, como drogas alucinógenas (LSD, cogumelos), anfetaminas, maconha e até o abuso de álcool, podem induzir alucinações auditivas. Isso ocorre porque essas substâncias alteram a química cerebral e podem afetar a forma como o cérebro processa estímulos sensoriais.


- Distúrbios Neurológicos
Problemas neurológicos, como tumores cerebrais, epilepsia ou lesões cerebrais, também podem causar alucinações auditivas. Quando áreas específicas do cérebro relacionadas à audição ou ao processamento de informações são afetadas, a pessoa pode começar a ouvir sons que não estão presentes no ambiente.
- Distúrbios de Ansiedade
Embora menos frequente, em casos de ansiedade grave ou transtornos de pânico, algumas pessoas podem começar a ouvir vozes relacionadas ao medo ou à angústia, especialmente em momentos de estresse intenso.

Como As Alucinações Auditivas Afetam a Vida de Quem As Experimenta?
As alucinações auditivas podem ser extremamente perturbadoras e difíceis de lidar. Para muitas pessoas, as vozes não são apenas desconfortáveis, mas podem ser aterrorizantes, levando a sentimentos de desorientação, isolamento e até comportamentos autodestrutivos. As vozes podem interferir no pensamento racional, dificultando a concentração e afetando a capacidade de tomar decisões. Em alguns casos, as pessoas podem se sentir pressionadas a seguir o que as vozes dizem, o que pode gerar consequências negativas na vida social e profissional.
Quando Procurar Ajuda?
Se você ou alguém que você conhece está ouvindo vozes ou experimentando outros tipos de alucinações auditivas, é importante procurar ajuda profissional. Embora algumas alucinações possam ser ocasionais ou relacionadas ao estresse, as vozes persistentes ou que causam sofrimento intenso devem ser avaliadas por um psicólogo ou psiquiatra.

Alguns sinais de que a ajuda profissional é necessária incluem:
- As vozes se tornam cada vez mais frequentes ou intensas.
- As vozes são ameaçadoras ou críticas, levando a sentimentos de medo ou desespero.
- A pessoa tem dificuldade para distinguir as vozes da realidade, comprometendo seu julgamento.
- A pessoa tenta agir de acordo com o que as vozes dizem, colocando sua segurança em risco.
- A pessoa se sente isolada ou incapaz de compartilhar suas experiências com os outros.
Tratamento para Alucinações Auditivas
O tratamento para alucinações auditivas depende da causa subjacente. Pode envolver uma combinação de:
- Terapia psicológica: Terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) podem ser eficazes para ajudar a pessoa a entender e lidar com suas alucinações.
- Medicação: Em casos de esquizofrenia ou transtornos psicóticos, medicamentos antipsicóticos podem ser usados para controlar as alucinações auditivas.
- Apoio social e familiar: Ter uma rede de apoio pode ser crucial para a recuperação. O entendimento e suporte de amigos e familiares ajudam a pessoa a lidar com os sintomas de forma mais eficaz.

Conclusão
Ouvir vozes pode ser um sintoma angustiante e muitas vezes assustador. Entretanto, não é algo que deve ser ignorado. Existem diversas condições que podem causar alucinações auditivas, e cada uma delas requer uma abordagem terapêutica específica. Se você ou alguém próximo está enfrentando essa situação, buscar ajuda profissional é o primeiro passo para entender melhor o problema e buscar o tratamento adequado. O apoio emocional e o tratamento adequado podem ajudar a pessoa a recuperar sua qualidade de vida e reduzir os impactos das alucinações auditivas no dia a dia.
Referências Bibliográficas
- American Psychiatric Association (APA). (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-5 (5ª ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.
- Este é o manual de referência para a classificação dos transtornos mentais, incluindo esquizofrenia e outros transtornos psicóticos, e descreve as alucinações auditivas como um sintoma chave desses transtornos.
- Frith, C. D. (1992). The Cognitive Neuropsychology of Schizophrenia. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.
- Este livro explora a neuropsicologia da esquizofrenia, com ênfase em como as alucinações auditivas podem ser entendidas dentro de um modelo cognitivo e neuropsicológico.
- Johns, L. C., & van Os, J. (2001). “The continuity of psychotic experiences in the general population.” Clinical Psychology Review, 21(8), 1125-1139.
- Este artigo revisa a prevalência de experiências psicóticas (incluindo alucinações auditivas) na população geral e discute os fatores de risco e os mecanismos subjacentes a esses fenômenos.
- Muench, F., & Hamer, R. M. (2010). “The effects of alcohol and drug use on the brain: Implications for addiction.” Journal of Neurochemistry, 115(6), 1221-1228.
- Uma análise sobre como substâncias psicoativas podem causar alucinações, incluindo as auditivas, e como essas substâncias afetam a função cerebral.
- Sherwood, J., & Mickelson, E. (2006). Psychotic disorders: Clinical management and case studies. New York: Wiley-Blackwell.
- Este livro aborda os transtornos psicóticos, oferecendo informações clínicas sobre o tratamento de condições como esquizofrenia e transtorno bipolar, que podem incluir alucinações auditivas.
- Turner, D. A., & O’Brien, A. (2012). “Auditory hallucinations: Phenomenology, aetiology and treatment.” Psychiatric Clinics of North America, 35(4), 753-764.
- Este artigo revisita a fenomenologia das alucinações auditivas, discutindo as causas subjacentes, incluindo transtornos psicóticos e outros fatores psicopatológicos, além de explorar opções de tratamento.
- Van der Gaag, M., & Cuijpers, P. (2006). “Psychosocial interventions for auditory hallucinations in schizophrenia.” Journal of Clinical Psychology, 62(5), 597-607.
- Uma revisão de intervenções psicossociais para alucinações auditivas, com foco em terapias baseadas em evidências que ajudam a controlar esses sintomas.
- Perry, C., & Kershaw, S. (2014). Understanding and Treating the Psychotic Mind: A Comprehensive Guide to the Understanding and Treatment of Psychotic Disorders.
- Uma fonte abrangente que explora os aspectos de alucinações auditivas e outros sintomas psicóticos, fornecendo uma visão holística de como esses transtornos podem ser tratados.
"Ouço vozes que ninguém mais ouve, mas sigo tentando me escutar no meio do ruído."

Autor:
Andriano Martins
CRP:05/55017
Especialista em Neuropsicologia e Psicologia Clínica.